Carta de um guarda do campo de concetração
Querida Helga
Conto os dias para te ver novamente. As coisas andam bem complicadas por aqui. Há semanas estamos despejando corpos. Sei que os judeus afundaram a nossa pátria alemã, mas ver os corpos raquíticos e distorcidos empilhados é uma imagem que abala os sonhos. Tem quem não é afetado, mas muitos, e eu entre eles, nos apegamos a bebidas para continuar com nosso trabalho.
Desde o dia que fuzilamos dezenas de judeus enfileirados, que estavam fracos e indefesos, tenho os visto em meus sonhos. Um deles virou o rosto pra trás, no momento exato do tiro. E aqueles olhos, ficaram gravados feito uma pintura em minha mente.
Mas o que começou a me incomodar quanto a isso tudo mesmo, foi quando comecei a ter uma sensação de estarmos com uma visita inesperada. Alguém ou algo, anda rondando o campo. Uma sensação desconfortante e que incomoda, como se algo estivesse nos observando. As vezes, tenho a sensação de que esse algo, espreita a cúpula da administração. Acredito que não fui apenas eu que percebi isso.
As vezes, notamos um dos prisioneiros nos observando. A sensação é incômoda e gera um frio na espinha. Sempre que isso acontece, nos congelamos. Nunca é o mesmo, mas mesmo quando a mesma pessoa nos olha de novo, não é a mesma coisa. É como se esse algo, usasse essas pessoas.
Teve um dia que até fui acordado por um destes prisioneiros. Mas não tinha ninguém no quarto e nem como um entrar. Mas o mais estranho, foi quando vi o que parecia ser alguém, atrás de uma pilha de cadáveres. Uma pessoa esquelética, mas parecia que tinha membros um pouco maiores que o normal. O focinha parecia de um rato, e estava comendo. Não sei o que, se deixar, comendo os cadáveres. E me olhou, de uma forma apaixonante, mas que parecia um predador olhando a presa. No instante seguinte, não tinha nada e nem ninguém lá.
Este lugar me amedronta.
PS – a carta nunca foi enviada. A administração do campo havia recolhido a carta e guardado. Por sorte, não foi queimada.
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